De 7 de abril a 6 de agosto, o Museu de Arte Carrillo Gil, na Cidade do México, apresenta ao público a exposição Orozco y los Teules, 1947, na qual recria a icônica mostra realizada pelo artista José Clemente Orozco naquele ano, em conjunto com o Colégio Nacional, instituição que reúne as mentes mais brilhantes do país em diferentes disciplinas.
A série que Orozco produziu para aquela mostra foi formada por 70 obras, entre pinturas e desenhos inspirados na crônica de Bernal Díaz Castillo intitulada História Verdadeira da Nova Espanha. As obras são um relato visual pessoal do enfrentamento entre espanhóis e indígenas durante o período histórico conhecido como a Conquista do México.
No seu sentido histórico, os teules era a designação indígena para os conquistadores espanhóis, que foram confundidos com divindades. Teul vem da raiz na língua náhuatl “teotl”, que soou aos conquistadores como “teules”.
O curador do museu, Carlos Palacios, escreveu um artigo sobre a Coleção Carrillo Gil, uma das mais emblemáticas do México, que temos a satisfação de publicar aqui.
Pode-se afirmar que o acervo Carrillo Gil foi pensado por seu colecionador para que viajasse pelo mundo. De fato, poucos anos depois de iniciá-lo no fim da década de 1930, Alvar Carrillo Gil emprestou um substancial grupo de obras sobre papel de José Clemente Orozco para uma exposição na Feira do Livro de Havana, em 1946.
Desde então, esse acervo – que se consolidou de forma robusta entre o fim da década de 1940 e o fim da década de 1970 – viajou intensamente, tanto como um conjunto em si mesmo ou como parte de exposições mais amplas, onde convergiam obras de outras coleções particulares mexicanas ou dos museus estatais do país.
Porque dizemos que foi pensada pelo seu próprio colecionador para viajar? Por um lado, o próprio Alvar Carrillo Gil organizou importantes mostras de suas obras no exterior, cuja envergadura vai mais além do que simplesmente promover a arte mexicana. Ele mesmo fazia o papel de curador de suas obras e exposições, como foi o caso da grande exposição de arte mexicana no Museu Imperial de Tóquio em 1955, para citar um exemplo pragmático na história das exposições internacionais de arte mexicana. Outro caso interessante, no qual o colecionador cuidou pessoalmente dos trâmites de envios internacionais de seu acervo pessoal, foi quando emprestou o acervo de obras gráficas para que o México pudesse estar presente na III Bienal de São Paulo, no Brasil, neste mesmo ano.
Mas evidentemente Carrillo Gil não podia cuidar do intenso trabalho de registro e curadoria de suas obras, e cedeu essas funções a seu amigo Fernando Gamboa, que organizou muitas mostras de arte mexicana por todo o mundo dos anos 1940 até o fatídico ano de 1973. Em setembro daquele ano, Gamboa instala 169 obras da Coleção Carrillo Gil no Museu Nacional de Belas Artes de Santiago do Chile. Uma exposição que não chegou a ser exposta, mesmo após já estar completamente instalada, por consequência do golpe de estado do general Augusto Pinochet ao presidente Salvador Allende, ocorrido em 11 de setembro de 1973.
De tal forma que seguindo a tradição, podemos chamar de “viajante” a Coleção Carrillo Gil, em 2015 foi possível reinstalar no Museu Nacional de Santiago do Chile as obras de Diego Rivera, José Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros que não puderam ser vistas naquele ano. O objetivo da mostra foi duplo: documentar esse capítulo traumático da Coleção Carrillo Gil e da história do Chile, e oferecer ao público chileno dos dias de hoje a possibilidade de admirar o poderoso e muito particular conjunto de obras sobre cavalete e em papel desses artistas, suas estéticas bem definidas, seus olhares contrastantes sobre a história antiga e moderna do México, e suas incríveis anotações sobre suas importantes obras em murais.
O sucesso dessa mostra no Chile permitiu que se pudesse ver a Coleção Carrillo Gil em outros museus latino-americanos e que se contrastassem essas obras com as de cada país onde se apresenta. Na Argentina, por exemplo, foi determinante a presença de Siqueiros, ao ser este o artista que incorporou o muralismo na arte do país. No Peru, as obras da Coleção Carrillo Gil estiveram em uma grande mostra de arte mexicana em 1955 e sua influência em figuras emblemáticas da arte moderna peruana foi determinante, como no vínculo com o mestre peruano José Sagobal. A presença desse acervo de arte mexicana de projeção internacional se reafirma na atualidade graças à correspondência que há entre as obras dos artistas da Coleção Carrillo Gil com aquelas de artistas modernos de cada país por onde passa a coleção, deixando clara e de “viva voz” sua influência na história da arte latino-americana.
*Tradução livre o artigo Obras viajeras: la Colección Carrillo Gil
Imagens: Museo Carrillo Gil
Para mais informações sobre o Museu Carrillo Gil consulte o site http://museodeartecarrillogil.com/.
Você está utilizando um navegador desatualizado. Por favor atualize seu navegador para visualizar corretamente este site.