Laboratório Ibermuseus: refletimos sobre a perspectiva de gênero nos museus

O Laboratório Ibermuseus é um projeto interno, que surgiu das preocupações e propostas feitas no 10º Encontro Ibero-Americano de Museus pelos 18 representantes dos países ibero-americanos que assinaram a Declaração do 10º EIM. Dando continuidade ao projeto iniciado em abril que abordou a legislação e institucionalidade dos museus, este segundo Laboratório explorou a importância de trabalhar a perspectiva de gênero nos museus.

O objetivo do evento foi promover a reflexão crítica sobre os atuais preconceitos de gênero, bem como dialogar regionalmente sobre as narrativas utilizadas em nosso setor. E, a partir disso, promover a identificação de princípios comuns e diversos que possam orientar ações, narrativas e diálogos que contribuam para o respeito à diversidade, promovam experiências de gênero mais inclusivas e continuem fortalecendo o papel dos museus na transformação e representação social.

A programação, ministrada por especialistas convidadas da Argentina, Brasil, Chile, Espanha e Peru, incluiu uma abordagem dos conceitos de gênero sob a ótica dos direitos culturais, o estado da arte sobre gênero, a apresentação de cases de museus chilenos e do Peru, bem como a identificação de oportunidades e desafios. Este segundo encontro contou com a presença de 42 profissionais dos países membros do Programa.

A experiência do laboratório destacou a importância de tornar visível o quadro referencial da abordagem de gênero a partir de suas noções básicas; e, ao mesmo tempo, mostrá-la como uma ferramenta de análise que desconstrói o hegemônico e que não está vinculada apenas às mulheres, pois evidencia as desigualdades sociais. A construção do gênero -foi dito- questiona a corporeidade desde o subjetivo e desde o objetivo. Além disso, mostrou como o artístico recria um sistema de inclusão-exclusão, como exemplo disso, foi abordada a lógica dos salões de arte nacionais, um encontro habitual na Argentina.

Um importante ponto de viragem foi o convite às instituições para repensar o cânone e desafiar a história construída em torno de inclusão e exclusão. As desigualdades podem ser vistas na ausência de mulheres como produtoras de arte, também na ausência de pessoas cisgênero cujas trajetórias também podem produzir significados, disse. E insistiram na tarefa que cabe aos museus de pensar a que responde a sua configuração institucional, a que contextos, a que desigualdades. Pensar nos imaginários culturais, nas representações sociais sobre as obras, pensar nos estereótipos a que responde o que exibem.

No mesmo sentido, convidou-se a abrir o enfoque a outras dimensões como a afetividade e a sensibilidade. Disse-se que passar de uma perspectiva crítica a uma perspectiva afetiva ajuda porque motiva à ação, ao coletivo que tem a ver com a convivência e o bem-estar, aspectos fundamentais para que o museu seja um espaço seguro.

Em termos de estratégia, foram propostos uma série de mecanismos e atividades para trabalhar a partir dos museus: tornar visíveis as criações de mulheres artistas, ter políticas de discriminação positiva, repensar o patrimônio, problematizar acervos, patrimônios e exposições. Recompensar, tornar visível e incentivar a inclusão com estímulos econômicos e simbólicos. E, gerar redes de colaboração com outros espaços que já percorreram caminhos.

Os laboratórios são espaços de diálogo virtual, por meio dos quais se inicia um exercício de intercâmbio de visões, contrastes e reflexões, com vistas à construção de um quadro conceitual e um glossário de termos comuns sobre a incorporação das abordagens de gênero nos museus.

Esses recursos oferecerão suporte para a implementação das ações do Programa e, ao mesmo tempo, servirão de referência para os governos, instituições e profissionais dos países. Serão, portanto, elementos a partir dos quais alinhar abordagens em projetos na região.